segunda-feira, 6 de abril de 2009

Belém - Pará :Médicos vão reforçar a luta pela CPI da Saúde

Fonte:Diário do Pará
Foto: Rogério Uchôa
A categoria médica está mobilizando um abaixo-assinado, buscando o apoio da população a instaurar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Municipal de Belém, que investigaria a culpabilidade da prefeitura no estado crítico que se encontra a saúde na capital. Os médicos querem mostrar que, mesmo com o arquivamento da comissão, a população apoia a instalação da mesma. Protocolada no dia 16 de março por 15 vereadores, o requerimento para a instalação da CPI foi arquivado pelo presidente da CMB, Walter Arbage (PTB), no dia 19 de março. Agora os parlamentares entraram na Justiça para garantir que a comissão seja criada. “Infelizmente, por questões partidárias, a CPI foi arquivada. Esse manifesto vem mostrar que a população deseja a CPI e quer saber o que acontece na saúde pública”, explica Wilson Machado, diretor do Sindicato dos Médicos do Pará (Sindmepa). O abaixo-assinado foi distribuído na manhã de ontem, durante manifestação em homenagem ao Dia Mundial da Saúde, feita pelo Sindmepa, Conselho Regional de Medicina (CRM-PA) e Sociedade Médico-Cirúrgica do Pará (SMCP). O evento, que aconteceu na praça da República, iniciou às 9h, em frente ao Theatro da Paz. Os médicos distribuíram blusas e fizeram um manifesto, mostrando a preocupação das entidades com a condução e os rumos da saúde pública nos municípios do Estado do Pará, especialmente na Grande Belém. “Vamos encaminhar este documento para a sociedade e para os órgãos de governos, para que isso sensibilize os governantes”, garantiu Machado. O manifesto também mostrou a importância da defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), que completa 20 anos em 2009, a implantação do Pacto Pela Saúde e da criação de planos estadual e municipal de saúde, que esclareçam as ações públicas na área de saúde. “O SUS é um modelo de saúde que não vem sendo implementado de maneira correta por problemas de gestão”, explica Machado. Ele considera que os avanços na área de saúde foram centralizados em serviços de média e alta complexidades, com a construção de hospitais regionais, mas sempre sem avanço na melhoria da Atenção Básica. “É um modelo que atende qualquer cidadão, sem distinção de raça, cor, sexo ou religião”. Para as entidades médicas, para se resolver essas questões são necessárias ações concretas dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, além da contribuição imprescindível da sociedade. >>> Pacientes ainda sem atenção Apesar do ato ocorrido ontem, na praça da República, quando diversas entidades e movimentos sociais demonstraram sua preocupação com os rumos que a saúde pública está tomando em Belém e no Estado, um homem deixou de ser atendido ontem pela manhã, no Pronto-Socorro Municipal do Guamá, com fortes dores no pé, que estava inchado devido a um machucado. Mario da Conceição de Oliveira não conseguiu nem entrar no hospital para ser avaliado. Um servidor que se encontrava do lado de fora do PSM apenas olhou o pé de Mário, sem tocar, e o mandou para a Clínica Maradei, para fazer um raio-x. “Faz uma semana que machuquei o pé no trabalho e desde ontem ele começou a inchar muito até o tornozelo. Tive que pagar dez reais para uma Kombi me trazer até aqui e não tenho condições de ir até essa clínica”. Mário ainda chegou a questionar a necessidade de um encaminhamento para realização do exame e uma ambulância para levá-lo até a Clínica, mas sem sucesso. “Disseram que não era preciso o encaminhamento, que a prefeitura já tem convênio, mas tenho certeza de que quando chegar lá não vão querer me atender sem o documento. Sobre a ambulância, disseram que tem muita gente na minha frente, mas se eu que quiser esperar eles me levam lá”, contou. VIGIA - A família do lavrador Carlos Alberto, 34 anos, também reclamava do atendimento no PSM do Guamá. Segundo a prima de Carlos, Maria de Fátima, o paciente veio da Vigia com a saúde muito debilitada, mas sempre recebe apenas um rápido atendimento e o mandam embora para casa. “Ele está muito inchado, com a garganta cheia de feridas e uma febre altíssima. Não consegue comer nada nem beber. Estamos nessa de vir pro hospital e voltar há oito dias. Hoje (ontem), ele amanheceu ruim de novo e trouxemos para cá. Agora que resolveram fazer um exame de sangue nele. Isso desde as 8h, são quase 11h e não temos uma resposta ainda”, reclamou. Segundo Maria, que é de Bujaru e veio para Belém ajudar o primo, Carlos Alberto é de Vigia e veio do município buscar atendimento em Belém por conta das condições precárias no sistema de saúde de lá. “Não temos condições. Já gastamos muito dinheiro de táxi porque aqui a ambulância nunca está disponível. Parece que estamos pedindo um favor, quando na verdade temos direito a um bom atendimento”, disse Maria. >>> Sufoco marca domingo na saúde O domingo foi marcado por sufoco nos prontos-socorros e unidades de saúde municipais. No Pronto-Socorro Humberto Maradei, o PSM do Guamá, não havia medico traumatologista. Segundo os próprios guardas municipais, que estavam de plantão no hospital, os pacientes que precisavamdo especialista estavam sendo encaminhados para o PSM da 14 de Março. “Muita gente teve que voltar para casa sem atendimento”, disse uma guarda que não quis se identificar. No Pronto-Socorro da 14 de Março, a situação estava aparentemente tranquila. Poucas ambulâncias e pouco movimento na porta do hospital. Mas quem saía de lá reclamava do atendimento. “Meu filho levou uma facada e, desde que chegou aqui nesse hospital, só aplicaram soro nele. Ele está sangrando e está muito tonto. Além disso, não tem leito. Ele está jogado no meio do corredor”, disse a dona-de-casa Marina Silveira, que veio com o filho do município de Igarapé-Miri à procura de atendimento. Outra denúncia confirmada pela assessoria de imprensa do hospital foi que no PSM da 14 também não havia traumatologista. A presença da imprensa pareceu incomodar os profissionais do hospital. Um médico do PSM da 14 tentou intimidar a equipe de reportagem do DIARIO. “O que vocês querem aqui? Não tem nada para vocês. Nós estamos preparados, temos olheiros, quando vocês chegam nós ajeitamos tudo aqui para que não tenha problema”, disse o médico, desdenhando da reportagem. Os problemas enfrentados pelos pacientes não acontecem apenas nos PSMs. Nas unidades de saúde do município, o cenário se repetiu. Na Unidade da Sacramenta não havia médico e nenhum tipo de atendimento estava sendo feito. Nossa equipe flagrou uma criança que chegou à unidade com um ferimento na cabeça. “Eles não atenderam meu filho. Falaram que não tinha ninguém nem para fazer um simples curativo”, disse a mãe da criança. Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) informou que no HPSM Mário Pinoti (14 de Março) o médico traumatologista do plantão de domingo precisou faltar e não avisou a tempo de ser substituídos por outro profissional, por isso os pacientes que necessitavam de atendimento dessa especialidade foram encaminhados à Clínica dos Acidentados ou ao Hospital Metropolitano. No HPSM Humberto Maradei (Guamá) também não havia traumatologista de plantão, devido a cinco médicos dessa especialidade terem pedido demissão desde janeiro. A Sesma informou ainda que até as 16h30 deste domingo o HPSM da 14 de Março atendeu 124 pacientes de urgência e emergência. O HPSM Humberto Maradei (Guamá) realizou 181 atendimentos no setor de urgência de emergência no domingo.

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