segunda-feira, 20 de abril de 2009

PARÁ - Belém: Três continuam internados após invasão do MST

Fonte:BELÉM Agência Estado e da Redação
& O liberal Digital

Um confronto entre um grupo de sem-terra e seguranças deixou oito feridos na fazenda Espírito Santo, em Xinguara, no sul do Pará, pertencente à Agropecuária Santa Bárbara. Outras cinco pessoas eram mantidas reféns na propriedade até a noite do último sábado. Após o confronto, os agricultores ligados ao Movimento dos Sem-Terra (MST) decidiram manter quatro jornalistas e uma advogada reféns, juntamente com outros 300 funcionários da empresa, que faz parte do grupo do banqueiro Daniel Dantas. Somente ontem os jornalistas e a advogada da fazenda Espírito Santo puderam deixar o local.
A troca de tiros durou cerca de dez minutos e deixou oito feridos - sete sem-terra e um segurança. Segundo Vitor Haor, repórter da TV Liberal, um dos reféns, um segurança da empresa Marca que presta serviço à Santa Bárbara, levou um tiro no olho e está em observação. Ele foi internado em estado grave em um hospital de Marabá, onde passou por cirurgia, mas já está fora de perigo. O sem-terra conhecido por Índio também foi gravemente ferido por um tiro no abdômen, mas foi atendido no Hospital Municipal de Marabá e também não corre risco de morte. Os outros quatro tiveram ferimentos leves e foram encaminhados ao Hospital Municipal de Xinguara. Eles foram liberados ontem à noite.
A fazenda Espírito Santo, pertencente ao grupo do banqueiro Daniel Dantas, foi invadida em fevereiro. Desde a sexta-feira, 17, os sem-terra ocuparam o portão principal da fazenda como parte das invasões que marcam as ações do 'Abril Vermelho', mês de aniversário do massacre de Eldorado dos Carajás. A empresa divulgou que os funcionários estavam sendo impedidos de deixar o local. No sábado, a advogada da Agropecuária Santa Bárbara, Brenda Santis, convenceu repórteres e cinegrafistas de três veículos de comunicação a irem com ela acompanhar o conflito. Ela disse que os sem-terra tentaram invadir a sede da fazenda por volta das 10 horas, mataram bois e saquearam um caminhão.
Segundo Vitor Haor, repórter da TV Liberal, ele, o seu cinegrafista, Felipe Almeida; o repórter fotográfico Edinaldo Souza, do jornal Opinião, e João Freitas, da Rede TV, chegaram ao local às 14 horas. Eles se dirigiram até a estrada onde estaria o caminhão saqueado, em companhia do gerente da fazenda, Oscar Boller, mas se depararam com a marcha dos sem-terra em direção à sede da fazenda.
Vitor disse ter sugerido a um dos líderes sem-terra, de prenome Charles, que as equipes jornalísticas intermediassem o diálogo, mas a proposta foi recusada e eles acabaram sendo levados à frente da marcha, como escudos. Com o avançar do grupo em direção à sede, começou o tiroteio. O repórter não identificou de onde partiram os primeiros tiros, mas relatou que o tiroteio durou cerca de dez minutos, tempo de desespero e correria. Ele se refugiou no curral, com o cuidado de erguer o microfone para se identificar e tentar evitar agressões. Um segurança da fazenda e sete sem-terra acabaram baleados e foram levados para dentro da sede. Outros dois sem-terra também foram detidos pelos seguranças.
De acordo com Vitor, os feridos foram levados de avião para atendimento médico. Os detidos deixaram a sede em um outro voo. Dentro da sede, a madrugada foi de terror e de telefonemas para as famílias por causa do medo de nova investida dos sem-terra. Conforme o repórter, uma equipe da polícia esteve na sede da fazenda por volta das 2 horas da madrugada, ouviu seu depoimento e logo deixou o local. O avião da fazenda retirou os repórteres de lá somente às 14 horas de ontem. Segundo Fernando Freitas, funcionário da fazenda, os cerca de 300 funcionários continuam refugiados na sede, pois temem cruzar o portão onde os sem-terra permanecem. 'Estamos sitiados. O clima aqui está horrível', disse o gerente da fazenda, Oscar Boller. Ele contou que dois seguranças da Marca levantaram as mãos e pediram para negociar com os sem-terra, mas a resposta foi bala da parte deles. A partir daí, segundo Boller, houve a reação dos seguranças.
O MST acusa os seguranças de terem iniciado o tiroteio e prometem não sair da fazenda. A Santa Bárbara tem 13 fazendas invadidas e ocupadas desde janeiro por agricultores ligados ao MST, à Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf) e à Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Pará (Fetagri).
Sem-terra e seguranças têm versões contrárias sobre o confronto
O coordenador local do MST, Ulisses Manaças, atribui o confronto à detenção de dois integrantes do grupo por uma 'milícia armada' paga por fazendeiros incitados pela Federação dos Agricultores do Pará (Faepa). O gerente da Agropecuária Santa Bárbara, Rodrigo de Paula, afirma que os sem-terra é que iniciaram o confronto em reação à tentativa dos funcionários de bloquear o acesso à sede da Espírito Santo.
Segundo Rodrigo, os ataques partiram dos trabalhadores sem-terra ao reagirem à tentativa de bloqueio feito por meio de veículo colocado pelos funcionários da Santa Bárbara para impedir que chegassem à sede da fazenda. Ele disse que os sem-terra fecharam a PA-150 em quatro pontos. 'Ninguém pode sair, fazer nada. Centenas de carros estão parados e não tem policiamento. A situação é gravíssima', reclamou.
O gerente também criticou a omissão do Estado no caso. 'Enquanto não morrer gente, o Estado não vai fazer nada. Já chamamos a polícia, a governadora, mas parece que ninguém está interessado em fazer nada. O sul do Pará está abandonado', protestou Rodrigo.
A tensão em torno da ocupação dos sem-terra se estende às outras fazendas controladas pelo grupo do banqueiro Daniel Dantas, investigado pela Polícia Federal por crime de lavagem de dinheiro. Ontem, no início da tarde, a assessoria de Imprensa da Agropecuária Santa Bárba ra informou que uma equipe de reportagem do Diário do Pará foi interceptada na entrada da fazenda Maria Bonita, em Eldorado dos Carajás - próximo à fazenda Espírito Santo - por sem-terra que bloqueavam a rodovia. O fotógrafo teve os registros da máquina apagados, mas foi liberado em seguida. Não houve feridos.
O coordenador do MST disse que nove sem-terra foram baleados durante o confronto, atendidos em hospitais de Xinguara, Redenção e Marabá. Apenas um foi identificado como 'Índio', o que estaria em situação mais grave. Segundo Manaças, os sem-terra partiram para a sede em reação à prisão de dois integrantes. Eles teriam sido apanhados em emboscada por uma mílicia identificada como 'Escolta rural' quando apanhavam palha no mato.
'As famílias foram para lá, foram recebidas com tiros', afirmou, ao sustentar que o bloqueio da fazenda foi mais uma reação. A imprensa foi mantida no local, segundo ele, como medida de proteção contra a milícia armada.
Manaças também criticou a segurança pública estadual. 'Esperamos a intervenção da polícia na área. Fizemos contato com os órgãos de segurança desde ontem (anteontem). Queremos que a polícia vá lá prender a milícia', disse.
Punições
O Supremo Tribunal Federal (STF) deverá validar as punições previstas para integrantes de movimentos de trabalhadores rurais que invadem terras. Pela atual legislação brasileira, os invasores podem ser punidos com a suspensão dos repasses de dinheiro público e das vistorias em terras para posterior desapropriação. Há um consenso entre os ministros do STF de que existe uma falta total de controle das invasões de terra e das sanções aplicadas aos responsáveis.

Estado descarta uso de força para reprimir invasões, mas aciona tropa
O governo do Estado, por meio do chefe da Casa Civil, Cláudio Puty, reafirmou aos fazendeiros da região que não vai utilizar da força para reprimir as invasões. Cláudio Puty solicitou que dez oficiais da Polícia Militar fossem à fazenda Santa Bárbara levantar informações porque, em sua avaliação, as versões são desencontradas. Ele informou também que a Delegacia de Conflitos Agrários do Sul do Pará não identificou nenhuma situação de cárcere privado.
Durante reunião com fazendeiros e representantes do sindicato rural de Xinguara, o chefe da Casa Civil do governo destacou a necessidade de se fazer uma operação imediata de desarmamento tanto de militantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) quanto do que ele chama de 'milícias' e empresas de segurança que protegem as fazendas nessa área do sul do Pará.
O encontro foi marcado por muitas queixas e reclamações. Os fazendeiros chegaram a dizer que estão completamente abandonados pelo governo do Estado, sem apoio, sem o devido suporte das Polícias Civil e Militar e que isso favorece as invasões.
Tropa de elite
A Polícia Militar do Pará deslocou ontem 40 homens de sua tropa de elite, com armamento não letal, para a região de Xinguara e Eldorado dos Carajás. A ordem da governadora Ana Júlia Carepa é desarmar os grupos em litígio, restabelecer a legalidade, investigar e punir os responsáveis pelo tiroteio e cárcere privado de quatro jornalistas e uma advogada. O clima ontem continuava tenso. A rodovia PA-150 foi bloqueada à altura de Eldorado dos Carajás, mas liberada no começo da tarde.
'Não vamos permitir desrespeito ou violação de direitos humanos. O Estado conseguiu reduzir pela metade os conflitos agrários e está presente desde o primeiro momento em toda a região', declarou o chefe da Casa Civil do Estado, Cláudio Puty. A polícia de Redenção informou a Puty não ter havido cárcere privado de jornalistas e funcionários da Agropecuária Santa Bárbara, pertencente ao grupo do banqueiro Daniel Dantas e que tem 13 fazendas invadidas e ocupadas pelo MST. O que houve, segundo os policiais, foi que durante o tiroteio a estrada de acesso à fazenda foi bloqueada, o que impediu a saída dos jornalistas do local. Os jornalistas, porém, negam a versão da polícia. E garantem que ficaram no meio do tiroteio entre o MST e seguranças da fazenda. Um dos jornalistas, o repórter cinematográfico Felipe Almeida, da TV Liberal de Marabá, disse que ele, o repórter Vitor Haôr e mais dois jornalistas da Rede TV ficaram 'reféns de líderes do MST dentro da fazenda'. Segundo Almeida, foram 10 minutos de pânico e os jornalistas foram feitos de escudo.
Segundo Puty, o Estado está cumprindo as liminares de reintegração de posse de fazendas invadidas concedidas pela Justiça, mas no caso das fazendas da Santa Bárbara não há atualmente nenhum pedido de reintegração. O que havia no caso de uma outra fazenda do grupo, na região, resumiu Puty, foi indeferido pela Vara Agrária de Marabá.
O MST informou que o lavrador Waldecir Nunes, o Índio, baleado por seguranças, levou três tiros que perfuraram o pulmão direito, o estômago e o intestino. Ele foi operado em um hospital de Marabá, mas os médicos ainda aguardam as próximas 72 horas para dizer se ele não corre risco de morte. O segurança Adson Ferreira levou um tiro no osso abaixo do globo ocular. A bala saiu e não provocou lesões no cérebro, embora ele corra o risco de ficar cego.
GOVERNADORA
Em viagem ao Rio, onde foi assistir à posse no arcebispado da cidade de dom Orani João Tempesta, ex-bispo de Belém do Pará, a governadora paraense Ana Julia Carepa (PT) garantiu, no fim da tarde ontem, que a situação em Eldorado de Carajás estava sob controle das autoridades. 'A situação é de tranquilidade, não tem nenhuma estrada obstruída, e os feridos, com exceção de uma pessoa que ainda está no hospital, foram todos liberados. Não houve nenhum ferido grave. Agora vamos apurar as responsabilidades. Existem duas versões completamente distintas. O que importa é que o Estado agiu e atuou com firmeza, garantindo a tranquilidade e o direito da sociedade civil', explicou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário