
Líder dos arrozeiros, Paulo César Quartiero, faz um desabafo contra decisão de se retirar da reserva indígena.
Fonte: Jornal em tempo
Foto:Roosewelt Pinheiro/ABr
O empresário e líder dos arrozeiros do Estado de Roraima, Paulo César Quartiero, ainda não desocupou totalmente uma das fazendas que está localizada nas terras da reserva indígena Raposa Serra do Sol e nem pretende desocupar no prazo dado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). “Não tenho a menor condição para desocupar, tem muita coisa lá e nem as famílias podem sair simplesmente porque não têm para onde ir. Além disso, não recebi nenhum ofício dizendo que tenho que sair, só sei disso pela mídia”.Quartiero falou, de Boa Vista, de onde acompanha a movimentação na Vila de Surumu por informações passadas por seus funcionários. Disse que o governo Lula está cometendo um “roubo legalizado” contra Roraima, mas não prevê que haja conflito na região, apesar de a Polícia Federal garantir que toda a reserva será desocupada. “Não temos como reagir, a única violência que poderá ocorrer ali é algum velhinho morrer do coração”.O senhor ainda não desocupou a fazenda que está dentro da reserva indígena Raposa Serra do Sol. Vai cumprir?Paulo César Quartiero - Não recebi nenhum ofício dizendo que tenho que sair. Nenhum juiz veio aqui me dizer que tenho que deixar as terras. Ainda tenho muitas coisas lá, máquinas, equipamentos e 400 hectares de arroz para colher.Quanto isso é em dinheiro? O valor não está incluído no cálculo da indenização feito pelo governo federal?Quartiero - Isso é um prejuízo de R$ 3 milhões. Um técnico do governo foi lá e avaliou a colheita em apenas R$ 900 mil. E a Funai também avaliou em apenas R$ 2,6 milhões as minhas terras, enquanto uma consultoria que eu contratei disse que as terras valem pelo menos R$ 53 milhões. E isso ocorre também com os pequenos produtores que estão ali, o governo não fez a sua parte, eles não têm para onde ir.O senhor pretende resistir à ordem de retirada?Quartiero - Eu não tenho como reagir. O governo Lula, só porque não votamos nele no meu Estado, enviou mais de 500 homens fortemente armados, com helicópteros e tudo mais. Não vai haver conflito, se houver violência vai ser, no máximo, algum velhinho morrendo do coração. Mas eu não consigo entender a razão do ódio que o governo desenvolveu contra o Estado. Por que isso de determinar a saída no dia 30? Esse número é por acaso um número cabalístico?Por que o senhor diz que está sendo roubado quando o governo está executando uma determinação do STF?Quartiero - O Supremo legalizou o roubo do governo Lula. Em vez de negociar como deve ser, de arranjar lugar para aquelas famílias de não índios serem alojadas, de avaliar corretamente as terras e dar tempo digno para que elas sejam desocupadas, o governo fez o que? Enviou o Exército para nos expulsar. O que eles querem é confiscar meus bens, confiscar meu engenho. Por que não confiscam também minha mulher e meus filhos? Só falta isso.O senhor chegou a negociar um prazo maior para poder colher o seu arroz?Quartiero - Nós temos uma bancada inteira no Congresso Nacional tentando negociar há cinco anos. Neste caso, duas ou três semanas seriam suficientes para o arroz estar no ponto de colheita. Mas o senhor Ayres Britto (Carlos Ayres Britto, ministro do STF) não nos deu atenção. E nem falo só por mim. A situação dos pequenos produtores é ainda pior porque eles não têm para onde ir. Os pequenos precisam de terra e de um mínimo de justiça.O senhor acha que o STF não fez justiça?Quartiero - Não fez, claro. E ainda temos que ouvir as bobagens que dizem seus ministros por aí. Por favor, tudo bem que venham tomar as nossas terras. Mas não me obriguem a ter que ouvir o besteirol do Supremo. Isso é muita tortura.
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