Fonte:Renata FonsêcaFoto:MICHELL MELLO
Especial para o EM TEMPO
Mais dois bairros de Manaus estão sofrendo com a enchente que assola o Estado. Enquanto na ‘Matinha’ mais de 300 moradores temem sair de casa nos próximos dias, na Glória a situação é de desespero. Na noite de sábado, a água do rio subiu e invadiu as casas.
Alguns moradores levantaram o assoalho para tentar salvar seus móveis. Em Itacoatiara (foto), o alerta para o risco de doenças já foi feito pela Defesa Civil.
Mais um bairro da capital está sofrendo as consequências da cheia deste ano. Aproximadamente 300 moradores dos becos Beira Mar e Boa Sorte, localizados no bairro Presidente Vargas, Zona Sul, temem ficar desabrigados caso ainda haja a ocorrência das fortes chuvas, nos próximos dias.De acordo com o vigilante Gilson Nascimento, 35, os próprios moradores do beco Beira Mar tiveram que construir pontes improvisadas com pedaços de madeira para ter acesso às suas residências. Segundo o morador, com a chuva do último sábado (2), a água da bacia do São Raimundo, que corta as palafitas, subiu quase meio metro.
“Nós estamos de mãos atadas, já ligamos várias vezes para a Defesa Civil, que até agora não veio nos ajudar. Está perigoso demais, principalmente para as crianças e os idosos”, ressaltou.
A situação está ainda mais complicada para quem mora no beco Boa Sorte, onde a água já subiu quase seis metros e pelo menos três casas estão submersas à água suja e muito lixo.
Na residência da autônoma Soraya Leitão, 33, por exemplo, a grande quantidade de lixo, originado pela poluição dos igarapés adjacentes, trouxe a presença indesejável de insetos como o caramujo africano, barata, aranha e até animais peçonhentos como cobras e ratos.
“A gente fica todo tempo com medo, porque de repente aparece uma cobra e acaba picando uma criança dessa e matando, fora as doenças que esses bichos podem causar”, enfatizou.
Há também moradores que perderam seus eletrodomésticos com a subida das águas. Foi o caso da doméstica Mônica Peres, 35, que teve a sua geladeira queimada com a entrada da água em sua residência de madeira. “O vento e peso da água fizeram com que a minha casa inclinasse para baixo. Com isso, a minha geladeira foi para o fundo, mas a minha maior preocupação é com minhas sete crianças, porque se elas caírem nessa água vai ser difícil de salvar por conta da profundidade”, lamentou.
Mas o improviso dos moradores acaba colocando em risco a vida de quem precisa se equilibrar nas tábuas de madeira. Durante a presença da equipe do EM TEMPO no local, uma criança de aparentemente cinco anos escorregou e por pouco não caiu no igarapé. “Isso acontece aqui todo o tempo”, afirmaram os moradores. Na manhã de ontem, o EM TEMPO entrou em contato com a Secretaria Municipal de Defesa Civil (Semdec) que garantiu visitar os moradores dos bairros Presidente Vargas e Glória ainda hoje.
A assessoria de imprensa do órgão justificou a demora no atendimento às famílias em função da grande quantidade de chamadas recebidas por dia, especialmente em dias chuvosos, ultrapassando 15 ocorrências.
Situação se agrava em Itacoatiara
Em Itacoatiara (a 266km de Manaus) a forte chuva da madrugada de ontem contribuiu para o agravamento da situação crítica do município que está sendo castigado pela cheia. No bairro do Jauari, mais de cem famílias tiveram que ser retiradas e encaminhadas a abrigos improvisados em escolas. As três ruas que formam o bairro foram completamente alagadas.
De acordo com o coordenador da Defesa Civil de Itacoatiara, Paulo Reis, o número de desabrigados pode aumentar visto que a situação tem se agravado nos últimos dias. “Todos os bairros estão em situação de emergência. Desde a semana passada estamos retirando os moradores de suas casas. Até as pontes de madeiras que construímos já estão submersas. As famílias que moram próximo à orla do rio tem sido as principais prejudicadas e ainda os moradores da zona rural”.
Os moradores dos bairros Colônia e Eduardo Braga 1 também foram removidos e encaminhados a abrigos.
O município de São Paulo de Olivença (distante a 988 km de Manaus) é outro atingido pela cheia do rio Solimões. Aproximadamente 15 mil pessoas já tiveram suas casas invadidas pela água e cem famílias já foram prejudicadas. A área mais afetada é a Zona Rural, onde os agricultores perderam todas as plantações.
A Defesa Civil do município tem feito a alerta aos moradores para o risco de doenças trazidas pela água poluída, como a leptospirose – doença transmitida por uma bactéria transmitida pela urina do rato – hepatite, tétano e malária.
Desespero na ‘Glória’
No bairro da Glória, Zona Oeste, a situação dos moradores do beco São José e Oswaldo Cruz é de desespero. Na noite de sábado, dia 2, a água do rio subiu e invadiu as casas. Alguns moradores levantaram o assoalho das casas para tentar salvar os móveis. Outros, abandonaram as residências e procuraram abrigo na casa de parentes. A Defesa Civil do município já esteve no local.
Segundo a dona de casa Rosinilda Oliveira da Silva, 35, a água subiu em questão de minutos e invadiu as casas. Desde o início da semana as residências que ficam na margem do rio estavam sendo ameaçadas de serem invadidas pela água, o que aconteceu por volta das 19h do último sábado. “Estávamos em casa quando percebemos que a água tinha invadido tudo. A minha foi uma das mais atingidas porque fica no final do beco. Graças a Deus consegui tirar os meus móveis e vou passar a noite na casa da minha irmã”, comentou.
O mecânico Rodney da Cruz Silva, 41, tentou salvar o pouco que conseguiu construir em anos de trabalho. Desempregado e com uma filha recém-nascida, ele sobrevive com ajuda de Deus e familiares. “Eu não tenho para onde ir e nem como comprar madeira para levantar o meu assoalho. Estamos nos virando com a sorte e ajuda de Deus”, lamentou.
Os moradores também precisam enfrentar outro problema: os animais e o lixo trazido para dentro das casas com a subida das águas. “Hoje (ontem) meu filho viu uma cobra e várias aranhas. O risco de contaminação é enorme porque tudo fica úmido”, informou Maria Ondina Santos, 52 anos.
A Defesa Civil do município foi acionada pelos moradores e esteve no local fazendo uma avaliação do caso. O órgão providenciou vários kits de madeira para construção de uma ponte como medida de emergência para locomoção dos moradores e informou que irá retornar ao local nesta semana.
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