quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

PARÁ - Falta de médicos no plantão provoca mortes em Belém


Fonte:(Diário do Pará) JORNAL DE BELÉM

Duas mulheres morreram, ontem, no Pronto Socorro da 14 de Março, após uma longa espera por atendimento médico. O DIÁRIO acompanhou o drama dos familiares das vítimas, que ficaram revoltados com o descaso da direção do hospital. Com problemas renais, Leonila Barbosa, 58 anos, veio do município de Abaetetuba, na madrugada de ontem, para procurar atendimento em Belém. Às 4h, Leonila, acompanhada de sua filha, Lene Barbosa, chegou ao Pronto Socorro. “Minha mãe estava sentindo muita dor. Ela gritava de desespero e, mesmo assim, não foi atendida. O médico disse que não havia leito no hospital”, disse Lene. As duas resolveram então procurar outro hospital. “Fomos no Hospital das Clínicas, no Hospital Metropolitano, na Ordem Terceira e nada de conseguirmos atendimento. O jeito foi voltar para o PSM da 14”. De volta ao Pronto Socorro, Leonila apresentava sinais de que estava piorando. A filha contou que os médicos só atenderam sua mãe com a chegada da imprensa, após as 10h. “Assim que a imprensa chegou, o médico mudou até o jeito de falar. O mesmo médico que antes tinha dito que não ia atender minha mãe resolveu atender na mesma hora”, contou Lene. Depois de esperar por horas o atendimento, Leonila foi levada para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital, mas não resistiu. “Não vou aceitar isso. Tudo o que eu não queria era ver minha mãe morrer aqui nesse inferno de hospital”, gritava Lene, desesperada. Situação semelhante foi vivenciada por Maria Natalina da Cruz. A mãe dela morreu depois de esperar dois dias por atendimento. “A minha mãe foi ferrada por um escorpião e nós a levamos para o hospital de Mosqueiro. Lá, eles viram que a situação era muito grave e encaminharam a gente para cá. Chegamos aqui e o médico que estava de plantão disse que não tinha cirurgião, que tínhamos que esperar”. Maria contou que os braços de sua mãe, Mariana Santos, de 60 anos, começaram a inchar e a equipe do hospital decidiu encaminhá-la para outro lugar, porém, como não conseguiram leito, a senhora ficou na espera. Depois de horas, não resistiu e morreu. Os familiares e outras pessoas que também acompanharam a situação de Leonila e Maria ficaram indignados com a morte das duas mulheres. “Eu fico com muito medo quando acompanho esse tipo de situação. Tenho um filho que está internado nesse hospital. Não aguentaria passar por isso que vi essas famílias passarem hoje”, disse a dona-de-casa Lourdes Maria. A assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) informou que Leonila Barbosa já vinha sofrendo de problemas renais há mais de dois meses e que não vinha se tratando. Por isso, ao chegar ao PSM, tinha poucas chances de sobreviver. Para a Sesma, a morte de Leonila não teve nada a ver com a demora no atendimento. Sobre a situação de Mariana, a assessoria da Sesma informou que ela havia sido ferrada pelo escorpião há quatro dias e só na noite da última segunda- feira foi levada para o PSM da 14 de Março. Então, segundo a assessoria, não havia muito o que ser feito. Outras pessoas que também precisaram de atendimento médico durante a tarde de ontem tiveram dificuldade e precisaram fazer plantão na frente do PSM para tentar uma vaga. Denise de Nazaré dos Reis informou que estava sentada na frente do hospital desde o dia anterior à espera de um médico que liberasse o irmão, internado com lesão na perna. “Eles já deram alta para o meu irmão, mas como não tem ambulância para levá-lo para casa, é preciso que um médico o libere para que a gente o leve de kombi. Como ele teve alta, o hospital não quer mais fornecer a refeição”. Josilene Vieira de Freitas também precisou de atendimento, mas não conseguiu. Ela foi trazida pelo marido, Francisco da Silva, para o PSM com dores e sem poder andar. “Fui no Hospital da Pedreira, lá foi diagnosticado que ela está com pedra na vesícula. Foi medicada, mas piorou e eu a trouxe para cá, só que eles disseram que não tem médico”. Alguns funcionários do hospital, que não quiseram se identificar, afirmaram que havia médico de todas as especialidades, no PSM mas que algumas situações não poderiam ser atendidas. “Eles estão mentindo. Tem médico atendendo a população, o que acontece é que algumas situações não podem ser atendidas aqui”, disse um atendente. Carlos Augusto, de 60 anos, disse que seu filho, de 15 anos, foi baleado na barriga e está internado há 12 dias. Ohomem relatou que seu filho está sem comer desde que deu entrada no PSM, pois, para se alimentar, precisa do uso de Nutrição Parenteral Periférica (NPP), uma alimentação dada pela veia. Segundo Carlos Augusto, no PSM não há esse tipo de serviço e seu filho está piorando a cada dia. GUAMÁ - Após registrar a morte das duas pacientes, a equipe do DIÁRIO seguiu para outros postos de saúde na cidade. E a cena de desespero se repetiu.No PSM do Guamá, a jovem Deise Gonçalves chorava com o filho de 3 anos no colo, que, mesmo apresentando crise de asma, não foi atendido. Funcionários informaram à jovem que não havia pediatra de plantão.

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