terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

RONDONIA - Reconstrução esbarra no “meião” da floresta


Fontes: Vanessa Farias
Jornal Diario Da Amazonia Porto Velho - Ro
Cerca de 180 quilômetros de estrada cortam a Reserva Extrativista do Lago do Capanã Grande, localizada no município de Manicoré (AM). Conhecido como “meião”, o trecho é um dos principais motivos de discussão sobre a conveniência de reativação da BR-319, sem planejamento socioambiental. A reserva conta com uma área de 304.146,28 hectares e foi criada com o objetivo de assegurar o uso sustentável e a conservação dos recursos naturais renováveis, protegendo os meios de vida e a cultura da população extrativista local. Na segunda quinzena de janeiro, a possível ativação da estrada e os prejuízos ambientais que uma provável expansão populacional às margens da BR-319 pode gerar voltaram a ser polêmica no cenário político nacional. O embate de opiniões entre o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, e Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente, que nutrem interesses diferentes sobre a Transamazônica. O ministro Alfredo Nascimento pensa na BR-319 como um importante elo no eixo transporte intermodal para o continente americano, ligando Manaus e Porto Velho, assim como o resto do Brasil ao Pacífico.O interesse do ministro dos Transportes esbarra na falta de liberação das licenças ambientais para as obras no “meião”, pelo ministro Carlos Minc, com alegação de que a reativação poderia provocar uma onda de desmatamento na floresta amazônica, a maior e mais rica do país. Um estudo feito por membros de diversos ministérios criou uma lista com uma série de exigências ambientais e estruturais que podem, de acordo com os especialistas, dobrar o valor da obra. O montante previsto no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é de R$ 697 milhões para a realização do serviço de recuperação e pavimentação asfáltica ao longo dos mil quilômetros da Transamazônica, ligando a capital de Rondônia a Manaus. Na lista de exigências dos ministérios para que as licenças ambientais sejam liberadas e outros trechos da BR-319 sejam recuperados consta a implementação de 29 unidades de conservação distribuídas às margens da rodovia, construção de postos de fiscalização e de um escritório do Instituto Chico Mendes, além da contratação de mão de obra especializada, como biólogos, pesquisadores e fiscais ambientais. MigraçãoEspecialistas afirmam que, com a conclusão da estrada, a migração para aquela área do Amazonas será gigantesca, o que pode provocar, consequentemente, muito desmatamento para a construção de casas e terrenos às margens desta rodovia. O aumento populacional na área pode ser dirigido para dentro da floresta. Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) acreditam que, se isso acontecer, o desmatamento poderá chegar a 38% da floresta, hoje preservada.EmbargoAtualmente, a “guerra” entre ambientalistas e políticos de interesses pessoais, sociais e de preservação ambiental continua. Não existe nenhuma garantia de que as obras devam ser terminadas. Segundo a previsão divulgada pelo Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit), em 12 de novembro de 2008, o prazo para a conclusão das obras na rodovia foi prorrogado pelo Ministério dos Transportes, de 2011 para 2012. O superintendente do Ibama no Amazonas, Henrique Pereira, informou que o EIA/RIMA está em fase de análise pela diretoria de licenciamento do órgão, em Brasília. "Nessa fase o Ibama verifica se estão contemplados no estudo todos os itens necessários para avaliar os riscos da obra", disse.A polêmica que envolve a estrada e os fatores de preservação deve continuar ao longo dos próximos três anos. Enquanto nenhuma resposta concreta é divulgada oficialmente, algumas pessoas podem estar se beneficiando com a exploração dos recursos naturais que a floresta oferece, outras se promovem pela força de instituições “em defesa” da floresta, famílias esperançosas esperam pelo crescimento e desenvolvimento nos vilarejos às margens da rodovia e os Estados do Amazonas e Rondônia podem perder em termos de desenvolvimento econômico e intercultural. A BR-319 continua, até que se resolva, sendo uma “benção futura” ou “eterna maldição” no coração da Amazônia.

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